Intolerância a sons- Misofonia, hiperacusia, fonofobia e recrutamento

Neste post, vou explicar sobre a intolerância a sons altos e a ruídos específicos, condição cada vez mais comum,  mas que só foi  bem estudada e difundida recentemente, por isso atualmente já conta com testes específicos para o diagnóstico e tratamento bem estabelecido. Este é um texto detalhado, mas se você quiser um texto mais rápido, clique aqui para conferir o post de perguntas e respostas.

SINTOMAS DE INTOLERÂNCIA A SONS

Com frequência recebo pacientes que dizem que escutam demais e se incomodam muito com  sons altos ou sons específicos. Ao contrário do que esses pacientes acreditam, essa queixa não é decorrente de audição acima do normal, e sim de uma tolerância reduzida aos sons e pode provocar desconforto persistente à exposição de sons de intensidade fraca ou moderada, irritação e até dor, além de poder incapacitar o paciente para o trabalho e vida social.

DIAGNÓSTICO DE INTOLERÂNCIA A SONS

Para o diagnóstico, precisamos da audiometria associada a um exame chamado LDL (loudness discomfort level – nível de desconforto de volume), que pesquisa com que intensidade de ruído o paciente passa a apresentar desconforto, sendo o normal acima de 90-100db. Também é feita a pesquisa do reflexo estapediano, que é um reflexo de proteção do ouvido quando exposto a sons altos (60db acima do limiar auditivo do paciente). O músculo estapédio contrai-se  e diminui a vibração dos ossinhos da orelha média, diminuindo a entrada de vibrações na orelha interna, o que a protege. Porém, em situações patológicas, esse reflexo é disparado em sons baixos – menos que 60bd acima do limiar auditivo, o que é denominado recrutamento, e gera desconforto. 

TIPOS DE INTOLERÂNCIA A SONS

A intolerância a sons é classificada em :

1- Recrutamento: há perda auditiva e alterações cocleares com presença de recrutamento. A sensação de intensidade progressivamente crescente é muito rápida  e provoca desconforto. Imagine que você está aumentando o volume da TV,​ em um primeiro momento o som está muito baixo e você não consegue escutar, ​então você aumenta apenas um nível do volume, o que te faz escutar bem, mas te causa desconforto, irritação e sensação ​de que o volume aumentou demais.

2-Hiperacusia: intolerância a sons de intensidade moderada ou fraca. É diagnosticada através de audição normal, mas LDL diminuído. Pode ter várias causas, tanto do próprio sistema auditivo (ex otoesclerose, doença de menière, fístula perilinfática, surdez súbita, trauma acústico,perda auditiva induzida por exposição a sons intensos), alterações do sistema nervoso central (ex enxaqueca, estresse pós-traumático, dependência de benzodiazepínicos, esclerose múltipla, depressão, epilepsia, traumatismo craniano), doenças hormonais (ex insuficiência da glândula suprarrenal, hipertireoidismo, neurossífilis) e infecciosas ou origem genética. Infelizmente, em muitos casos, não é possível identificar a causa da hiperacusia. 

3- Misofonia: o paciente não gosta de se expor a sons específicos. A audição e o LDL estão normais. A reação a sons específicos depende do contexto das reações emocionais,  e não das características acústicas, como  intensidade,  do som. Ocorre por ativação inadequada do sistema límbico, relacionado a emoção, e nervoso autônomo, relacionados a reações físicas como taquicardia, sudorese e sensação de desmaio.

4- Fonofobia: é um tipo de misofonia, definida como medo de se expor a sons. O gatilho é unicamente psicológico, uma vez que o indivíduo tem medo de que determinados sons prejudiquem seus ouvidos ou sua audição.

TRATAMENTO DE INTOLERÂNCIA A SONS

O tratamento da doença de base é o primeiro a se tomar, e é importante que o médico investigue a causa do sintoma para um possível tratamento etiológico. Porém, em muitos casos a etiologia é indefinida ou irreversível.Alguns estudos sugerem tratamento da hiperacusia com medicamentos, como carbamazepina, lítio, antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina-como paroxetina e sertralina- benzodiazepinicos – como clonazepam e alprazolam- gabapentina e pregabalina.

Terapia sonora

As terapias sonoras com base no enriquecimento sonoro são as mais recomendadas. Tem como objetivo dessensibilizar as vias auditivas centrais e é realizado com sons ambientais e/ou com geradores de com de banda larga adaptados nas duas orelhas. A intensidade e o tempo de uso dos geradores de som são aumentados gradualmente, e o tempo entre as sessões de acompanhamento é realizado com maior frequência. O paciente é desencorajado a ficar no silêncio ou a usar protetores auditivos. Muitos paciente tendem a fazer superproteção auditiva, mas isso é prejudicial, já que o paciente fica acostumado com ambiente totalmente silencioso e cada vez sensível a qualquer tipo de ruído.  Existem também supressores ou atenuadores sonoros, que controlam a entrada sonora, aliviando as queixas dos pacientes sem levar a superproteção auditiva. Infelizmente, esses últimos não estão disponíveis no Brasil.O enriquecimento sonoro é sempre associado a sessões de aconselhamento ou orientação, que têm por objetivo desmistificar os sintomas auditivos, explicar o funcionamento da via auditiva, o processamento da informação auditiva no cérebro e as estratégias terapêuticas.  Isso ajudará na adesão à terapia e colocará o paciente numa posição muito mais ativa no processo terapêutico.

TRATAMENTO PSICOLÓGICO/PSIQUIÁTRICO

Alguns casos de hiperacusia podem precisar de terapia cognitivo-comportamental para redução da hipervigilância auditiva. Já a misofonia e fonofobia precisam de acompanhamento psicológico e psiquiátrico mais intensos e precoces. Indivíduos ansiosos, deprimidos ou com outros comprometimentos emocionais devem ser encaminhados para terapia psicológica precocemente, pois tais transtornos afetam diretamente o aproveitamento das sessões de orientação e limitam ou retardam os resultados da terapia sonora. 

Dra Kênia Assis Chaves

Médica Otorrinolaringologista

CRMMG 52018

RQE 33072

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