Muitos pacientes que eu atendo precisam usar aparelho auditivo para tratar o zumbido, mas a maioria fica sem entender porque. Por isso eu preparei este material para explicar como o aparelho auditivo trata o zumbido.
A maioria dos pacientes que têm perda auditiva leve ainda não reclamam de dificuldade de ouvir e sim de zumbido, muitas vezes muito grave e incapacitante. Só os pacientes com perda auditiva moderada, severa ou profunda reclamam de dificuldade de escutar e de se comunicar e, nesses casos, normalmente já não reclamam mais de zumbido.
Primeiro, eu preciso explicar como ocorre a audição normal e o zumbido.
Nesta figura está ilustrado como ocorre a audição normal (som é representado pelas setas amarelas). De maneira simplificada, temos:
- o som entra pelo canal auditivo;
- passa pelo tímpano e ossinhos da orelha média (1);
- na cóclea (2), o som é transformado em impulsos elétricos;
- Os impulsos elétricos são transportados pelos nervos até o cérebro (4);
- Cérebro (4) interpreta os estímulos elétricos como som, com todas as suas característica de timbre, intensidade e altura.
Quando ocorre perda auditiva, representada pelo X vermelho na figura, os sinais elétricos chegam no cérebro de uma maneira diferente de quando não havia perda auditiva. O cérebro percebe esta diferença e, como um grande coordenador, tenta amenizar a situação, fazendo uma regulagem desses impulsos elétricos (seta amarela grande). Ele foca mais na área auditiva, gasta mais energia para receber e interpretar esses impulsos elétricos. Eu brinco que é como se ele pegasse o controle remoto e aumentasse o volume no máximo. Quando nós fazemos isso com o controle remoto da TV, passamos a escutar muitos ruídos e chiado de fundo, nao é mesmo? São esses ruídos que o cérebro interpreta como zumbido.
Já nesta última figura representamos os efeitos do aparelho auditivo (raio verde). Ele vai fazer com que a cóclea volte a gerar impulsos elétricos iguais ou parecidos com a audição normal, que são conduzidos até o cérebro. Quando ele percebe que os impulsos elétricos já estão normais, como antes da perda auditiva, ele diminui aquela regulação que fazia antes, de aumentar o volume, atenção e energia gastas com a audição. Por isso, ele passa a não escutar mais aqueles ruídos de fundo, ou seja, a não escutar o zumbido.
Porém é importante dizer que este processo de adaptação cerebral não é imediato, e é mais demorado quanto maior o tempo que a perda auditiva (mesmo que mínima) ficou sem tratamento. Costuma demorar entre 6 meses a 2 anos, por isso nós médicos esperamos todo este período para ver o efeito completo do aparelho auditivo.
Além disso, também é importante dizer que o tratamento do zumbido não se limita ao aparelho auditivo. Normalmente durante a investigação especializada, encontramos várias causas para o zumbido além da perda auditiva, e todas eles precisam ser tratadas para eliminar ou amenizar o zumbido.
Dra Kênia Assis Chaves
CRMMG 52018
RQE 33072