Qualquer som que se escuta mas não existe no ambiente é chamado zumbido (e seus outros nomes: acúfeno ou tinnitus) que pode ser percebido em um ouvido só, em ambos, ou no meio da cabeça. Cada pessoa descreve o som ouvido de uma maneira (chiado, panela de pressão, grilo, pulsação, cigarra, bater de asas etc). Pode ser constante, intermitente (vai e volta repetidamente) ou pode ocorrer apenas em situações específicas (ex: silêncio). É considerado um sintoma de alteração nas vias auditivas, mas para entender melhor isso, primeiro temos que conhecer alguns conceitos básicos sobre audição.
Antes, tenho que esclarecer que ouvido e orelha são sinônimos, sendo orelha a nomenclatura técnica.
Orelha interna – anatomia e fisiologia
Esta é orelha, e a parte destacada é a orelha interna. Ela é dividida, simplificadamente, em cóclea/labirinto anterior – responsável pela audição, muito relevante quando estudamos zumbido e labirinto posterior- conjunto de canais semicirculares, sáculo,utrículo- responsável pelo equilíbrio (importante quando estudamos tontura).
Por agora, vamos nos concentrar na cóclea, já que o tema é zumbido. Mas, adiante falarei mais sobre o labirinto (quando eu abordar a tontura). A cóclea tem a estrutura semelhante a um caracol, com um canal que dá 2 voltas e meia sobre seu eixo.
Figura2- estrutura da cóclea
Essa é a visão interna da cóclea. Ela é divida em 3 “túneis” cheios de líquido: a rampa timpânica, média e vestibular. A rampa média é a mais importante, já que o órgão de Corti está localizado nela. O órgão de Corti é a menor estrutura responsável pela audição, e contém as células ciliadas, que são as terminações nervosas do nervo auditivo. A composição do líquido dentro do órgão de corti é regulada pela estria vascular, órgão que leva sangue e nutrientes necessários para o seu correto funcionamento.
As terminações nervosas das células ciliadas se juntam e formam o nervo auditivo, que por sua vez se junta ao nervo coclear, e aí formam o nervo vestibulococlear (VIII nervo craniano, que leva essas informações (equilíbrio e audição) para o sistema nervoso central através da rede complexa da figura abaixo:
Figura3- vias auditivas centrais
A parte do cérebro responsável pela audição é o córtex cerebral, que tem conexões com outras áreas do cérebro, principalmente sistema límbico e sistema nervoso autônomo,motivo pelo qual influencia em áreas de atenção, memória e humor.
Outro conceito importante é da tonotopia da cóclea e do córtex auditivo, o que significa que cada parte desses órgãos é responsável por uma faixa sonora específica de frequência sonora. Na cóclea, a parte mais inferior (espira basal- primeira volta) é responsável pelos sons agudos e as partes mais altas (espira apical- última volta) pelos sons graves.
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Fidura4- tonotopia da cóclea e do córtex auditivo
Causas de ZUMBIDO/TINNITUS/ACÚFENO
É considerado um sintoma de alteração nas vias auditivas, que pode ter diversas causas, desde de doenças próprias da cóclea – como perda auditiva, até doenças que afetam o ouvido secundariamente, como medicações, doenças metabólicas, cardiovasculares, neurológicas, odontológicas e psiquiátricas. Além disso, várias causas podem estar associadas na mesma pessoa. Por isso, é importante uma avaliação completa da região da cabeça e pescoço, além da análise da saúde geral do paciente. Consequentemente, isso demanda tempo, algumas consultas e vários exames.
MECANISMO DE GERAÇÃO DO ZUMBIDO
De maneira geral, algumas dessas causas lesa as células ciliadas e diminui a atividade delas, motivo porque elas mandam menos informações para o córtex auditivo. Para compensar essa diminuição , áreas auditivas do sistema nervoso central aumentam sua atividade , o que gera a sensação de zumbido.
Abaixo está o modelo de Jastreboff, que explica como o zumbido é gerado e mantido.
Figura5-modelo de Jasterboff
De forma simples, a geração do zumbido ocorre no sistema auditivo periférico (cóclea), detectado nos centros auditivos subcorticais (lembrando da fig3, seria toda a área entre o nervo auditivo e o córtex auditivo), e a percepção ocorre no córtex auditivo, com significativa participação do sistema límbico (responsável pelas emoções) e do sistema nervoso autônomo (responsável pelas sensações físicas – taquicardia, suor frio,” frio na barriga”).
HABITUAÇÃO: CONCEITO CHAVE PARA TRATAMENTO DO ZUMBIDO
Quando um som é percebido, pode ser rapidamente ignorado (ex.: som do ar condicionado, barulho de pessoas conversando do seu lado ou o próprio zumbido), o que é chamado de habituação. Algumas pessoas, contudo, associam esse som a fatores negativos, tais como: medo de tumor cerebral, perda auditiva ou de piora progressiva, dentre outros; e, quanto mais se preocupam e se concentram em sua presença, mais evidente ele se torna. Portanto, o grau de incômodo do zumbido não é proporcional a intensidade do som, e sim ao significado que a pessoa dá ao som.
Tratamento do zumbido
Em suma, para tratar o zumbido é necessário:
1- Conhecer a causa do zumbido
2- Tratar a causa do zumbido
3-Aconselhamento: explicar o que é o zumbido, entender os medos do paciente ,para conseguir mudar o significado que o paciente deu ao zumbido
4-Habituação: cérebro para de dar atenção ao zumbido, e pessoa para de se incomodar com o zumbido e por fim para de perceber o zumbido.
Dra Kênia Assis Chaves
CRMMG52018
RQE 33072